segunda-feira, 23 de novembro de 2020



Telas nos mostram e nos escondem do mundo

Sentimentos cada vez mais desfigurados

Ou – nas horas novas – profundos

Porém – nem sempre – poéticos.

Pessoas indagam o porquê de tanta injustiça

E quão pouco depende de nós o fim das notícias

Mesmo assim, refletimos recorrendo

Aos pontos que o cérebro ainda permite

Revemos o passado, descobrimos saudades e valores calados.

As vestes já não importam tanto e as maquiagens andam econômicas

São os olhares que nos respondem e sutilezam o que nos consome.



A caneca está cheia e a caneta vazia

Chá para ansiedade e azia

Nenhum que afaste a hipocrisia

Dos outros e a de nós mesmos.

As ideias já vivem muito mais no coração

São indescritíveis e decepcionam o racional.

As preces são atendidas muito mais nos sonhos

Dentro de nós mesmos – pesadelos

E a ferramenta que ainda nos serve

É enxergar-se e enxergar

Além do que é possível expectar.

Dentro de nós a sós (in) convictos

Laços desatados ou mais sólidos do que se pensa

Saudade dos passados e dos abraços previsíveis

                     ... Ou não

Saudade até de ser maltratado no balcão.


Cliente sem os bares da vida.


O que se tem nas mentes em home office

Virtuais futuros do presente de incertezas

Romances em queda progressiva insólita

Volta aos velhos hábitos analógicos ou flertes tecnológicos

Um tanto aquecem a solidão que não me adormece.


Nosso amor de carne e plástico

É tesão entre duplos tecidos

Líquido inflamável

Enquanto me adapto a não ir

Além de meus pés descalços

Janelas abertas às distâncias e à reconciliação

E não me iludo mais

Burlo regras com cautela

Escolho trégua porque é preciso

Melhor ofegar de amor

A morrer de SUSto enquanto respiro.