domingo, 7 de agosto de 2016

Tempos Bons

E chega o dia de admitirmos que gostaríamos tanto de ter vivido o bom tempo que não passava, o tempo que achávamos que não fazíamos nada e que tudo era tédio, que éramos inúteis na sociedade, mas decidíamos quando tomar remédios e ainda tínhamos todo tempo do mundo. Como se o mundo tivesse tempo. Não queremos mais ser ídolos e nem promover grandes revoluções. Queremos ser ouvidos por nossos filhos e fugir de rebeliões. Nossos motivos... são os que nossos pais nos diziam: contas pagas desde o início, educação para os filhos, casa para morar e não ser velho doente para alguém cuidar.
Não queremos decepcionar nenhum freguês, nem resistimos mais à importância do inglês. Nunca fomos verdadeiros burgueses, os negamos, no entanto, queríamos um pouco deles. Fomos camponeses e nem fizemos a (s) grande (s) viagem (ns). Fomos para Contagem, Patrocínio e interior de outras cidades. Hoje, só queremos paz, saúde em dia, amizades, cartão que compra alegria – consciente – e que deixa de lado as mágoas da saudade. Ainda somos boa vontade, queremos mais verdades e fazer parte do que é estar vivo, valorizar nossas vidas e às dos amigos, sejam elas e eles do jeito que foram e são. Quando decidimos nosso destino, mal sabíamos que nunca somos como os que sempre decidem. Nossa decisão é definir quem somos sãos. Queríamos tanto, não conseguimos tanto quanto os sonhos declararam. Fomos apenas seres humanos que sonharam, vitoriosos por termos ao menos vivido e feito planos. E, se pararmos para pensar, muitos realizamos... 
Em tempos bons.

Trechos do Poema 'Entre o filósofo, o poeta, o físico e o ermitão'

...
Micros os desejos não são
Exprimem sonhos ainda não conquistados
Vagueiam como reflexões que perduram
Em busca de razões ocultas
Que se refletem nas sombras côncavas
Quando dobram as esquinas
Enquanto ágoras são erguidas
Dilatam-se vidas
Que unem literatura e física
Em linhas homéricas dionisíacas
Entre os que escolhem e não se identificam
Vivem pelas florestas de modo alternativo
Longe dos outros que decidem os motivos
Como metáfora que não se explica
O mundo em suas diferentes formas de vida.
...

(do livro "Depois do Rio" - lançamento 2016)