quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cachorro Louco


E deixo meu cachorro louco, meu gato borralheiro, ser libertado de meus sonhos. Libero este rico coitado, criativo por vários lados, que tanto coloriu meus pensamentos dormidos e acordados quando anoitecia em lamúrias íntimas. Ele não me atende mais, não acompanha minhas malícias, nem meus melhores desejos. Há algum tempo, atendeu a várias fantasias mentirosas, metidas e irrisórias. Decresceu o que se podia esperar do mundo com seus carinhos nocivos e espontaneidade homérica. O real escorregou-se para além dos lábios e tornou-se lembrança; o mundo estava aberto a outros ares de sol. No entanto, o orgulho sempre foi ferido e, quando menos esperei, primeiro, me libertei... do que tanto temia, do que um dia desejei ser estação indefinida. O mundo tornou-se o meu real. Não esperava me conhecer por esses meios. Despi sonhos à luz de velas, bebi vinhos sozinha, liguei incensos inspiradores e escrevi poemas em 5 minutos. Talvez nunca tenham sido tão ridículas as letras unidas e eu ridícula junto. Uma puta vergonha me assolou o juízo; foram várias decadências quando desci o nível e ... quando chorei em pensamento, lamentei não ser estória única. (A falsidade permeia mundos não táteis). Nem nas fantasias se escolhe o protagonismo. Fui eu mesma por vezes e cumpri o papel de autoanálise. Mas, o que fiz comigo foi maldade, deixando des-imaculadas portas e telas para o cachorro louco entrar conforme quisesse um brilho de meu consentimento, como se quisesse de verdade me olhar. Ele queria meu tempo quando o dele fosse (poucas vezes) esperto... e não o que eu sei dar (bem) quando quero. Agora, escancaro as janelas para que o cheiro se perca, o sonho adormeça e eu possa ter paz deitada sob o ventilador.