Dias efervescentes pensando em cultura...
Mais uma vez, a intensidade de agora é devido à construção de novos projetos,
que não deixam de ser de vida, profissão, lazer e afeto. O momento do planejamento
é uma fase muito rica, na qual cabem análises sobre o que já fizemos, como eram
e como são/estão os contextos, as interferências internas e externas, a
relevância e a contribuição para o meio em que vivemos e até quem somos em
relação aos resultados esperados.
Depois de anos mudando de ambientes, em
busca de aprendizado, oportunidades e reflexões abrangentes, cada passo não
deixa de se relacionar ao vasto campo da cultura em seus diversos aspectos. As
ideias e os ideais não têm fim. Eles “sobrevivem” em torno das produções
culturais amplamente divulgadas; das que se espalham em nichos por região; das
políticas que sempre nos esbarram; da mídia que mostra alguns trabalhos e
influencia novas manifestações; do que ainda permanece escondido ou visto
somente pelos próximos; de como acontece nos setores públicos e privados, na
economia, no marketing; e a criatividade em torno disso tudo... “Relações de
poder” está entre as palavras-chaves.
Ufa! São só alguns dos pontos que
inspiram, desanimam ou animam, confrontam valores e ações, mas tocam e fazem borbulhar
ideias novas que parecem não caber em uma só cabeça. Mas, além do que podemos
fazer individualmente com nossos planos, não tem como deixar de pensar em
colaboração, formação de redes, estabelecimento de parcerias e em como definir
novas formas de produção, contribuindo para formar novas culturas.
Balanços constantes têm relevância. Por
isso, é enriquecedora a saudade de tempos atrás, quando o desejo principal era
simplesmente fazer, ver acontecer e acessar ao máximo o que a cultura oferecesse.
No entanto, como isso tudo era só uma parte do todo que envolve vivenciar e
fazer cultura, aos poucos, gritaram outros fatores que se relacionam a ela.
Não é que, em outros momentos, havia
pouca reflexão ou ignorância em relação às entrelinhas dos caminhos que se
cruzam na cultura do nosso país, mas, quanto mais vivência, mais oportunidades
temos de comprovar hipóteses negativas e de sentir, ao longo dos anos, o
cansaço e o peso da labuta por nos mantermos nessa vida, enfrentando os
obstáculos para fazer acontecer. O lado bom é que, entre médios e baixos, a
gente se diverte e, seja como for, realiza. E há, ainda, os momentos de pausas,
reinício de processos, reinvenção, espera pelos altos e contínuo aprendizado. Sempre
há tempo de fazer melhor.
O ciclo se repete e se compara à
obsessão de rodar e rodar, mudar de área, fazer mais cursos para ampliar a
formação, mudar de cidade, de objetos de empolgação; e ver que permanece com o
mesmo fio condutor, que faz conexões, se curva, dá voltas, transforma-se em
infinito e faz continuarem os mesmos objetivos. Enquanto houver vida, haverá
amor pelas artes, pelo conhecimento, pela cultura de forma geral. Estar de
qualquer maneira envolvido nisso é o principal objetivo. Contudo, a grande
certeza é que as coisas acontecem quando investimos.
Que não se cansem os
projetos!
Lembro-me agora de um poema – de outros
tempos – para matar a saudade daquela época e comemorar o hoje e a bagagem que
é sempre requisitada.
Arte
Somos
partes
Somos
ocos
Ou somos Arte?
Começamos com dentes fortes
Acabamos sem força para usá-los
Somos obras modulares
Naturalmente copulares
Mutáveis por abraçá-los.
A meta não é abrirmos espaço para nossas
criações artificiais
Torná-las a exposição mais disputada
Que só entende quem sabe mais.
Porém não mudam como nosco
Mas permanecem vivas sem dentes tortos
E mesmo sendo nossas partes
Quem são ocos?
Quem somos Arte?