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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nelson Rodrigues - o que nos diz?

Nelson Rodrigues
Amigo das noites, companheiro de expectativas, críticas aos amores, realidade exagerada só porque não aparece em todas as casas.

Algumas de suas pérolas:

Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos...

O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes.

Qualquer indivíduo é mais importante do que a Via Láctea.

Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.

Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.

O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência.

Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las.

Antigamente, o defunto tinha domicílio. Ninguém o vestia às pressas, ninguém o despachava às escondidas. Permanecia em casa, dentro de um ambiente em que até os móveis eram cordiais e solidários. Armava-se a câmara-ardente num doce sala de jantar ou numa cálida sala de visitas, debaixo dos retratos dos outros mortos. Escancaravam-se todas as portas, todas as janelas; e esta casa iluminada podia sugerir, à distância, a idéia de um aniversário, de um casamento ou de um velório mesmo.

Quando os amigos deixam de jantar com os amigos [por causa da ideologia], é porque o país está maduro para a carnificina.

Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.



A cama é um móvel metafísico.

Na mulher interessante a beleza é secundária, irrelevante e até mesmo desnecessária. A beleza morre nos primeiros quinze dias, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse de mulher em mulher anunciando: ser bonita não interessa, seja interessante.

A televisão matou a janela.

...O homem deseja sem amar, a mulher deseja sem amor.

Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.

A ideologia que "absolve e justifica os canalhas" é apenas o ópio dos intelectuais.

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